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Monumento ao Garimpeiro (1969)
Patrimônio Urbano, Imaginário Social e Memória Disputada
📍 Praça Joaquim Nabuco (Centro Cívico), Boa Vista – Roraima
Do Obelisco ao Garimpeiro: A Reconfiguração Simbólica do Centro Cívico
O local onde hoje se ergue o imponente Monumento ao Garimpeiro já foi cenário de outra estrutura simbólica. Em 1962, no auge do simbolismo cívico-republicano, foi instalado um obelisco de concreto no centro da então recém-urbanizada Praça Joaquim Nabuco, como marco da centralidade urbana e homenagem à fundação do Território Federal do Rio Branco. O obelisco representava a verticalidade da ordem, a modernidade institucional e o projeto de Estado. Entretanto, poucos anos depois, durante a gestão do governador Hélio Campos, o obelisco foi removido para dar lugar a uma nova narrativa visual: a do garimpeiro, figura que ganhava protagonismo nas políticas de ocupação e desenvolvimento territorial na década de 1960. A substituição não foi apenas uma mudança de monumento, mas a transposição de uma simbologia estatal-republicana por uma representação popular-extrativista, em sintonia com a identidade que o governo pretendia projetar para Roraima naquele momento.
A Criação do Monumento: Arte, Técnica e Política
O Monumento ao Garimpeiro foi inaugurado em 1969, consolidando-se como a primeira grande obra de arte pública instalada de forma permanente no coração da capital. O projeto artístico foi concebido pelo escultor e artista plástico Laucides Inácio de Oliveira, que traduziu em concreto e ferro fundido a imagem de um garimpeiro em tamanho monumental, com cerca de sete metros de altura. O trabalhador está representado em uma postura arqueada, em meio ao esforço físico da garimpagem, segurando uma bateia — instrumento icônico da atividade aurífera.
Detalhes da Escultura e Monumento ao Garimpeiro.
As proporções da escultura e o cálculo estrutural do pedestal foram elaborados pelo técnico Francisco da Luz Moraes, conhecido como “Japurá”, e a execução final foi conduzida pela Divisão de Obras do governo territorial, sob direção de Walter Basto de Melo, engenheiro responsável por várias obras do Centro Cívico. A obra foi instalada em frente ao Palácio Senador Hélio Campos, sede do Executivo, destacando a relevância simbólica do garimpo como motor econômico e cultural. Sua localização, no ponto central do traçado em leque de Boa Vista, reforça o papel do monumento como eixo visual e cívico da cidade planejada.
Entre Glorificação e Crítica: Um Monumento em Tensão
Originalmente erigido como símbolo de progresso e homenagem à classe garimpeira, o monumento passou a ser reinterpretado ao longo do tempo. Com feições que remetem à ancestralidade afro-indígena, a figura do garimpeiro é muitas vezes identificada como o “Cristo Redentor de Boa Vista”, tamanha sua proeminência no imaginário local.
Contudo, intelectuais e artistas roraimenses têm promovido uma leitura crítica do monumento. O poeta e filósofo Eliakin Rufino, por exemplo, argumenta que o monumento personifica uma “visão colonizada” da história de Roraima. Ao colocar o garimpo como centro simbólico da cidade, o poder público da época teria reforçado a imagem de Boa Vista como uma “currutela” — termo pejorativo que remete a vilarejos precários surgidos em zonas de garimpagem, marcados por instabilidade econômica e exclusão social. Rufino destaca ainda que, ao lado da estátua, existia um reservatório de água em formato de diamante, hoje inexistente, que completava o cenário visual. A composição reforçava a vocação minerária como identidade territorial, em detrimento de outras dimensões culturais, como a ancestralidade indígena, a biodiversidade amazônica ou os saberes tradicionais locais.
A Praça como Espaço de Disputa Simbólica
A Praça Joaquim Nabuco, onde o monumento está inserido, é o ponto de convergência do Centro Cívico de Boa Vista — conjunto urbanístico modernista projetado por Darcy Aleixo Derenusson entre as décadas de 1940 e 1960. A substituição do obelisco pelo garimpeiro materializou uma transição de narrativas: da fundação institucional do território para a celebração da economia extrativista. Essa transformação revela como o espaço urbano também é campo de disputa simbólica e de reconfiguração das identidades coletivas. Hoje, o monumento é ao mesmo tempo um marco urbano fotogênico, um testemunho de uma época, e um ponto de partida para reflexões críticas sobre os caminhos que Roraima percorreu em sua formação. A permanência da obra no espaço público permite que ela seja reinterpretada constantemente à luz das novas gerações, não apenas como ícone, mas como espelho de tensões e contradições da história local.
Legenda da foto: Centro Cívico de Boa Vista (RR), registrado em vista aérea por Tiago Orihuela. A imagem destaca o traçado urbanístico radial e simétrico da única capital brasileira planejada integralmente ao norte do Equador. O Palácio Senador Hélio Campos e os jardins centrais configuram o núcleo do poder político estadual. Crédito: Foto de Tiago Orihuela.
Dicas para se Dinamizar e Otimizar as Experiências dos Visitantes
O Monumento ao Garimpeiro é facilmente acessível a pé a partir de qualquer ponto do Centro Cívico. É recomendado aos visitantes que:
· Observem os detalhes anatômicos e expressivos da estátua;
· Perguntem aos moradores locais sobre a história oral associada à obra;
· Visitem a praça ao entardecer, quando a iluminação realça os contornos do
monumento;
· Reflitam sobre como monumentos moldam a percepção da história e do
pertencimento.
Legenda da Imagem: Registro fotográfico em 05.05.2024 do Tour Acadêmico-pedagógico com os estudantes do Curso Tecnológo em Gestão do Turismo e também com egressos da Universidade Estadual de Roraima – UERR, promovido pelo prof. Ismar Borges de Lima.. MultiAmazon – UERR. Acervo do Projeto Boa Vista 4.0 – Smart Turismo Sem Fronteiras.